Daily Archives: March 5, 2015


A controladora do comboio Genebra – Lyon

des-billets-de-train_4740355Nós somos clientes fáceis para a agente de fiscalização simpática da SNCF. Apenas não obliteramos os bilhetes, algo obrigatório antes de embarcar nos comboios franceses. “Pas de souci”, diz-nos. E marca os bilhetes com a sua caneta.

O senhor sentado ao nosso lado chama-a. Ele comprou o bilhete na internet mas não pôde imprimir na estação onde apanhou o comboio porque não havia a impressora. Os bilhetes da SNCF para os comboios regionais não podem ser impressos em casa nem simplesmente mostrados no telemóvel. Estamos em 2015. Mas a senhora simpática tem a solução. Apenas necessita o cliente de anular o bilhete no seu telemóvel e ela lhe fará um novo no comboio. A rede de telemóvel instável porém não permite de fazer imediatamente essa operação, ela voltará mais tarde. O cliente descobre nas condições que há uma taxa por anular o bilhete. Quando a controladora regressa, face ao novo facto, descobre uma meia solução na sua maquineta: ela cobrará um bilhete com um desconto mais elevado que o de direito do cliente – o senhor é idoso mas terá desconto de “idoso de menos de 16 anos”. No entanto o cliente vai ter de comprar novamente o bilhete de TGV para a segunda parte da sua viagem na estação de Lyon. Não haverá problema de falta de lugar, assegura a agente. Boa sorte senhor, digo eu.

Começou entretanto a nevar. Forte. Na paragem seguinte há pelo menos 5cm de neve. O comboio não parte. Um minuto depois começam por aparecer três crianças a arrastar malas de rodas pela neve com dificuldade. O comboio não reparte. Mais três crianças e três malas aparecem. E mais quatro jovens. E finalmente um adulto. A controladora espera. Temos quatro minutos de atraso mas todos entram no comboio com as malas que não conseguem transportar na mão mas arrastam pela neve com enorme dificuldade. O comboio enfim reparte. O adulto começa a falar em francês: “oh não!, perdi os bilhetes que tinha nos bolsos”. E repete. A agente pergunta onde vão. “A Paris.” respondem em coro. A controladora simpática não sabe o que fazer. Vai dar uma volta, regressa, e trata de uma solução durante 15 minutos.

Todos parecem contentes. A controladora vai poder seguir o seu trabalho, talvez chegar a uma outra carruagem.

Passados dois passos uma senhora com uma criança pergunta se o papel que tem é válido como bilhete. “Não, era preciso fazer isto e aquilo” – responde-lhe a nossa agente de fiscalização. A controladora começa a perder a paciência. E diz ir ver com o colega para uma solução. Entretanto chegamos ao destino e ela não voltou para uma solução. Nem controlou mais ninguém. Mesmo a paciência da mais simpática dos fiscais tem limites.