Porta-te bem, pai!
As pernas desta vez venceram. Mas tenho a certeza de que o meu pai já está a preparar a próxima maratona, onde quer que ela seja. E eu lá estarei – estaremos todos -, em pensamento, a acompanhar e a vê-lo atravessar a meta.
Este ano foi difícil.
A doença que o acompanhava há 12 anos chegou às pernas. Ao centro da vida do meu pai.
Foi o momento de começar a viver um dia de cada vez:
- Ir em cadeira de rodas, com meu primo Pedro, ver o Benfica a ganhar;
- Rever os amigos
- Pôr no site, sempre que a concentração o permitia, as estatísticas em dia.
E o ano terminou. As pernas dele pararam.
As memórias que guardo do meu pai são as mesmas que as vossas.
As de alguém de espírito conciliador, bem-disposto, com sentido de humor, muito optimista e sempre disponível.
Nunca me vou esquecer, no tempo da Revista Atletismo, em que todos os meses fazíamos centenas de envelopes para enviar aos assinantes.
Lembro-me de irmos à Volta ao Minho com os amigos – mesmo quando a Volta ao Minho era na Serra da Estrela.
Lembro-me de começar a fazer atletismo em jovem, treinar na pista de 500 metros do Estádio Universitário, e participar em competições. …mas, ao contrário do meu pai, nunca cheguei a ser campeão de nada!
Lembro-me de, em criança, ir com ele ao estádio torcer pelo Benfica. De ver jogar o Benfica aos ombros dele no estádio da Covilhã. Fez-me sócio desde que nasci…
Lembro-me de ir com ele às redações do jornal do Benfica, do Record e da Lusa.
Lembro-me das viagens que fizemos para participar nas maratonas em Londres, no Hawai, na Africa do Sul e no Sahara. Ele ainda foi, mas só com a minha mãe, correr ao Ártico e à Antártida.
Lembro-me de ver o meu pai entrevistar os atletas nos finais das provas.
Lembro-me de ditar os dados para os seus cadernos de estatística de atletismo.
Lembro-me das histórias que contava sobre as lutas políticas do 25 de Abril e das recordações dos colegas do liceu Pedro Nunes.
E, se estamos aqui hoje, é porque as memórias que têm dele, tal como as minhas, são boas e ficarão gravadas para sempre.
Porta-te bem, pai!