Monthly Archives: December 2010


A aprendizagem de África continua. Vamos de táxi à gare routiére e metem-nos num autocarro para Bandjun. O autocarro tem como destino final Yaoundé e está meio vazio. Decido perguntar num café como ir para Bandjun e dizem que o melhor é ir em táxi partilhado. Encontramos um táxi que nos leva até ao centro de Bandjun. Dizem depois que é preciso outro táxi para ir até à Chefferie – “são quatro quilómetros”. Um homem propõe 1500francos para uma course (táxi todo para nós) mas queremos apenas dois lugares que custam 150 francos cada. Rapidamente vemos que nunca haverá mais gente para que ele parta e decidimos ir a pé. Demora 40 minutos e quatro perguntas por direções.

A chefferie é onde vive um rei local e há umas certas tradições. O conservador do museu guia-nos e conversa connosco. Ele quer trazer mais locais a descobrir a chefferie mas não sabe como. De regresso apanhamos uma moto-táxi até ao centro de Bandjun e depois um táxi leva-nos diretos ao hotel em Bafoussam onde tínhamos deixados as mochilas.

Comemos umas espetadas para matar a fome e vamos apanhar um minibus para Funbam. Incrivelmente não temos de esperar. Vamos vinte numa HiAce de nove lugares mas aguenta-se. Não há espaço para vendedores a bordo. Funbam, depois de uma hora de viagem, é ainda mais poeirenta. E mais muçulmana. O hotel que escolhemos é simples. Depois de pagar descobrimos que as torneiras estão secas e há apenas um bidon cheio de água. Adeus duche. Visitamos o Palácio Real com dois guias, um para o interior e outro para o exterior. O guia do exterior leva-nos depois a lojas de artesanato onde não queremos comprar nada (custa sempre dizer não a cada um dos vendedores insistentes) e ainda a uma interessante fundição de bronze. Estamos cansados e vamos beber uma cerveja a um bar que não tem música a altos berros. Tiramos umas fotos da varanda do restaurante – é sempre bom tirar fotos do alto, sem que as pessoas nos remarquem. Depois jantamos, já ao som de música. Frango e uns couscous brancos muito finos. A empregada tenta nos vender uns colares: estamos bem numa cidade turística. Cansados vamos para o nosso hotel sem água onde passamos o ano novo a tentar dormir ao som de milhares de pessoas e bares a altos berros – “bonne année, bonne année”.


Tentamos levantar cedo mas saímos da cama às 7:30. Passamos na boulangerie e tomamos um táxi para a gare routiére onde haverá autocarros – enormes Mercedes – para Bafoussam. À chegada do taxi logo alguém tira as malas do porta-bagagens e tenta nos levar para a boa bilheteira antes que alguém da companhia concorrente o faça.

Agradecemos que nos Camarões, com exceção dos mercados, não precisamos de discutir o preço. Um autocarro já está cheio e nós somos enviados para o segundo. Há ainda 70 lugares a vender antes que ele parta. Demora hora e meia enquanto vemos vendedores de bebidas, bolachas, sapatos, relógios, revistas a passar. A certa altura começamos a ocupar os lugares no autocarro e os vendedores a passarem também lá dentro. Um mete um CD a tocar e pergunta se há interessados. A viagem ainda não começou. À partida um vende duas revistas por 500francos. Sempre a mesma estratégia: um preço exorbitante depois um preço especial de autocarro e ainda um preço, metade, para os três primeiros. E as pessoas compram. Foram banhas da cobra, foram “A Secretária perfeita” em forma de revista. As vendas acompanham mais de metade da viagem no autocarro de cinco lugares por fila.

Em Bafoussam apanhamos um táxi para o centro que nos deixa em frente ao Hotel du Centre, simples. Mostram-nos um quarto enorme e decidimos por um pequeno. Há só uma toalha, não há mosquiteiro. Passeamos um pouco pela confusão, vemos um porco vivo ser transportado de moto, tomamos uma cerveja, jantamos ‘roti de carne’ no bar do hotel.


O barulho na rua começa às 6h. Tudo se ouve dentro de casa. Dormimos pouco e mal. Às 7:30 levantamo-nos e saímos. Tentamos comprar um cartão para o telemóvel mas o rapaz simpático diz que não tem “puces” legais e que as que vende se blocam passados quatro dias. Diz para ir à casa mãe da empresa. Comprámos iogurte liquido e um pão com chocolate numa boulangerie. Perguntamos a um vendedor de rua onde se apanha o táxi para o centro. Há imensas moto-táxi em modelos como havíamos visto em regiões tibetanas. Um dos condutores de mota corrige-nos enquanto tentamos pedir o táxi. “É poste central”, “custa 400”, diz-nos. Aqui os táxis são partilhados por vários passageiros que seguem na mesma direção. Para descobrir clientes abrandam, gritamos onde queremos ir e quantos lugares precisamos. Se aceitam buzinam e param, senão continuam a marcha.

O centro de Yaoundé é como o resto da capital – pó e confusão, vendedores por todo o lado, tal como táxis. Tudo é feio. Procuramos a casa-mãe do operador telefónico. Encontramos após três demandas.

Temos uma senha e comprámos um chip. Depois temos de ir a outro balcão identificar-nos: tiram fotocópia do passaporte, pedem a morada – que nos Camarões é apenas a Cidade e o Bairro – e dizem que dentro de umas horas já podemos usar o cartão. A fotocópia do passaporte vai para o monte de outros duplicados atrás de um computador.

De tarde vamos ter com Jean ao hospital e após uma hora de espera partimos dar uma volta de carro, não sem antes atender um paciente e dar opinião a outro médico sobre um caso mais complicado. Vamos ver o centro de congressos – “oferecido pelos chineses, construido pelos chineses” – e seguimos para o estaleiro da casa que Jean constrói. De manhã ele tinha pago o resto de um trabalho ao empreiteiro e este desapareceu sem pagar aos trabalhadores. Estes juntaram-se e vieram pedir contas a Jean ao hospital. Jean disse que havia de encontrar o empreiteiro. O guarda do estaleiro come avidamente os plátanos oferecidos por Jean. Quando teria ele comido a última vez?

A nova casa de Jean já tinha dois de três andares murados mas tudo parecia muito básico. O terreno à volta tem milho, avocado, mangas. Tem um vizinho anglofono que tem um bar no meio do nada, onde as crianças dançam aos décibeis de Michael Jackson.

De regresso paramos num bairro muçulmano onde comemos espetos de carne. São apenas 19:30 mas estamos cansados e Jean leva-nos a casa. Tomamos duche e vamos dormir.


Genebra – Yaoundé (terceiro ensaio)

É difícil levantar-se às 5h da manhã. Eva dormiu mal. O avião parte. Em Bruxelas tudo em ordem. O segundo avião, quase sem espaço para as bagagens de mão, parte com uma hora de atraso. Um voo calmo. Seis horas e vinte mais tarde somos o único avião no aeroporto de Yaoundé. A imigração é rápida no simples aeroporto. Somos os primeiros a sair com as nossas mochilas. Jean, o antigo colega da Eva, espera-nos com um amigo. Vamos até ao hospital pediátrico onde Jean trabalha como médico. Prédio simples, tudo com aeração para o exterior, crianças e mães nas camas. A primeira razão de ida ao hospital é o paludismo, mas muitas vezes não têm dinheiro para pagar os medicamentos.

Vamos ver o apartamento onde vamos dormir, que pertence ao amigo de Jean. Numa casa num dos bairros periféricos da capital, Monte Juvence, na sétima rua da descida da Juvence. É uma rua em terra, como todas as ruas secundárias da capital dos Camarões. Uma vivenda de dois andares, ele vive em baixo e aluga dois quartos, cozinha e salão que compõe o apartamento. Ele mostra a cozinha com um pequeno frigorífico desencastrado. A sala com pequena televisão acesa, quarto com mosquiteiro a cobrir a cama, casa de banho com chuveiro molha-tudo, retrete sem assento de plástico e lavatório só numa das duas casas de banho. As torneiras de água quente eram apenas decoração.

Jantámos em casa de Jean. Casa simples onde os seus pequenos filhos nos esperavam. A sua esposa cozinha no chão da cozinha. Oferecemos às crianças um carro e uns livros. A filha de cinco anos fica triste mas não chora os livros que ainda não consegue ler. Comemos frango, platain e salada. A filha também quer comer. O pai oferece-lhe. Depois as crianças vão deitar-se no quarto. Sozinhos, sem necessidade de “obrigar”, sem choros. Jean devolve-nos ao “nosso” apartamento mas não conseguimos dormir. Calor, almofadas grandes demais e demasiados câmbios desde a partida de Genebra. A certa altura a extenuação toma conta de nós.


Genebra – Duala (segundo ensaio)

Não neva em Bruxelas e o aeroporto está aberto. O avião que nos deve levar à capital belga está 20 minutos atrasado. Quando finalmente aterra em Genebra vejo que abrem o motor da direita e trabalham durante 30 minutos até que nos deixam embarcar. Digo à Eva que não me parece bom. Na hora que passamos dentro do pequeno Avro, o capitão vai contado que o tal motor da direita precisa de óleo e que no aeroporto não há esse tipo de óleo. Ele diz pedir à British Airways que usa o mesmo tipo de avião para ver se teriam uma lata de óleo. Mais tarde diz que um voo da Air France está a aterrar e ia ver se eles teriam óleo extra. “No pior dos casos temos de esperar pelo vôo seguinte de Bruxelas que traz o óleo para nós”. É um Exxon-Mobil não-sei-das-quantas que precisa o motor. Nós tínhamos fome, outros passageiros reclamavam com fome. Só vendiam comida e só aceitavam Euros. “As pessoas com destino a Duala, Pequim, Washington são convidadas a abandonar o avião”. Trocamos o bilhete para terça-feira, desta vez partindo às 6:50 da manhã.

Eva está um pouco doente mas vamos na mesma fazer um pouco de esqui de fundo no Jura.