Às 6h já é dia mas ainda havia música na rua e algumas pessoas a dançar. Ao sair do hotel um guarda dormia num banco e outro sobre a secretária. Não acordaram nem com a porta mal oleada. Vamos de táxi para a estação de autocarros donde partem veículos – a palavra apropriada – para Kumbo. Apontam-nos para uma velha Hyace. É velhíssima mas não foi alterada, só tem nove lugares embora leve até 12 ou 15 pessoas. Começam a abrir stands de comida no descampado. Compramos uma baguette. Táxis chegam com gente e bagagem. Motas com bagagem que não acreditamos ser possível transportar sobre duas rodas. Converso com um homem que me diz ser um responsável de ver a ordem de chegada dos veículos, de ajudar a carregar e pagam-lhe por isso.
Compro arroz e feijão para pequeno-almoço. Aqui pede-se “arroz por 100 francos” e ela serve num prato que acabou de lavar numa bacia de água.
Táxis chegam, veículos partem para diferentes destinos. Para Kumbo não há mais ninguém. Esperamos durante três horas. O condutor, anglófono, fala ao telefone. Receio que decida não ir. Tinha dito que partiria com quatro passageiros. Fecha-nos a carrinha e diz que a vai parar mais próxima da estrada. Avançou os vinte metros que faltavam. Esperámos mais dez minutos com o motor ligado.
Estamos lá desde as 7h30 e já passam das 10h30 quando partimos, só os dois e o chauffeur para por gasolina. O caminho é em terra batida. Passamos as duas primeiras vilas e não há passageiros. Cruzamos pelo menos dez veículos super-lotados no sentido inverso. Hora e meia depois três passageiros entram. Fazem relativamente curtas distâncias e tudo se passa num dialecto local. Receio que alguma peça do carro se parta, tanto são os buracos.
Uma mota com um passageiro e a roda de um carro como bagagem ultrapassa. Cinco minutos depois vemos um carro a usar essa roda para substituir o pneu furado.
O condutor para. O potencial passageiro dá-lhe um copo a beber. O condutor dá-nos a provar – “it’s sweet”. Sabe a vinagre com açúcar. O condutor é convidado a casa do passageiro e sai de lá com outro copo de plástico que nos dá a provar – “this one is very sweet”. É vinagre com mais açúcar. Passado um momento entra o condutor, o passageiro e três bidons com o tal líquido a fermentar. Quilómetros depois o passageiro parte e deixa um dos bidons como pagamento da viagem.
Na vila seguinte há uma família com muitas crianças entra na carrinha. A mãe, com uma cintura de uns dois metros de circunferência, senta-se ao nosso lado apertando-nos contra o bordo do veículo. Os últimos quilómetros são desconfortáveis sem espaço e com crianças à volta. Chegamos a Kumba.
A família sai e como não há táxis o condutor diz levar-nos até à rotunda mais à frente onde haverão. Ele não os vê (nós vimos dois) e assim leva-nos até ao hotel. Nós prometemos pagar-lhe o valor do táxi. À chegada oferecemos 2000 francos aos quais, embaraçado, responde “should I give change?”. Agradece-nos imenso e nós ficamos pelo hotel onde a água quente prometida na receção não funciona.
Passeamos por Kumba. Cidade simpática, muito menos confusa que todas as outras que vimos até hoje. Por ser o primeiro dia do ano todos estão bem vestidos. A dois mil metros de altitude a temperatura é perfeita. Distribui-se “Bonne année” por todo o lado mesmo que Kumba seja anglofona. Tomamos cerveja em duas simpáticas esplanadas. No meio do trânsito vemos aparecer e passar homens mascarados de guerreiros, parte da tradição local de ano novo.
Jantamos peixe grelhado e 200 francos de batatas fritas. Gostamos de Kumba.