A temperatura regressou mas o ibuprofene funciona. Depois de comer algo começo com uma dor na garganta, ao início no lado esquerdo. Vamos de táxi até à agência de viagens recomendada pelo hotel. O autocarro já havia partido. O taxista leva-nos a outra agência que nos embarca para Buea, a 30km dali. Lá apanhamos outro autocarro de 30 lugares para Yaoundé. Depois da típica hora para por as malas sobre o autocarro, de avançar 30 metros e parar por 10 minutos, partimos. Passamos ao longo de uma linha de comboio que, a certa altura, segue numa das faixas de rodagem por alguns quilómetros. Há tão poucos comboios nos Camarões que não há sequer sinalização nas passagens de nível. Passamos em Duala, a capital económica com alguns prédios de 5 a 7 andares, a mesma ou pior confusão que nas outras cidades do país. A estrada Duala-Yaoundé parece ser das mais perigosas. A certa altura cruzamos um autocarro na berma com o motor na traseira em fogo e todos os passageiros a sair apressadamente pelas três portas disponíveis. Não há extintores.
Mais tarde durante controle da polícia uma criança de uns 7 anos sobe para o banco da mãe e urina pela janela. Cinco horas de viagem até à capital. A estrada das agências de viagem está congestionada de táxis. O autocarro faz as últimas dezenas de metros em contra-mão antes de fazerem uma abertura entre os táxis para chegar ao terminal. É mania de muitos países deixar o motor ligado quando o veículo está parado. Enquanto esperava que a mochila descesse, já intoxicado pelo fumo e quase tocado por um autocarro em marcha atrás, meto a mão e desligo o motor que me incomodava.
Vamos para casa de Jean de táxi, depois de lutar verbalmente com dois tipos que tentavam fazer comissão com o condutor de táxi e um preço exagerado. Salvou-nos o simpático taxista.
Contamos as experiências, brincamos com as crianças até irmos todos ao aeroporto. Antes do check-in fazem um scan dos passaportes mas o homem distraído não devolve o passaporte da Eva e mete num monte de outros. Brussels Airlines levou 3 guichets de check-in móveis para o aeroporto. O pessoal é local. Convencemos o agente que não temos bagagem e dá-nos o boarding passe sem perguntar que lugares gostaríamos. Temos de ir a outro pequeno guichet pagar a taxa de embarque. Não há troca de palavras com a senhora que demora um bom minuto para receber e verificar os nossos últimos francos e por um carimbo nos bilhetes.
Despedimos-nos de Jean. No primeiro controlo há alguém que vem e nos ultrapassa. Já vimos a mesma atitude quando comprámos bilhetes de autocarro. No controle de passaportes o guarda fala ao telemóvel enquanto preenche a ficha de partida que nos deram no primeiro controle, 20metros antes.
Um terceiro controle de bilhete e passaporte antes dos raios-x. Pergunto se preciso tirar os líquidos a que responde “ponha aí” apontando para a mochila. Líquidos, sim, não? Sem resposta não tiro os líquidos.
Quarto controle do bilhete onde digo um forte “Bonjour” à falta de cumprimento inicial.
Quinto controle, para abrir a bagagem de mão. Digo para o ar “não confiam nas vossas máquinas” ao qual o guarda estrabuja. Passa ainda um detetor de metais. À Eva o guarda olha para os líquidos para ver se algo é inflamável.
Embora ainda falte uma hora para o avião chegar ao aeroporto, dizem sem parar para os passageiros do voo tal e tal irem à sala de embarque para “immediate boarding”.
Converso com um jovem que vai pela primeira vez à Europa. Falamos dos seus sonhos e das diferenças, mas pouco lhe digo para o permitir descobrir.
Pouco depois de embarcar chamam um médico. Várias pessoas se levantam. Poucos minutos depois pedem novamente. Eva junta-se ao grupo na parte detrás do avião. Os hospedeiros estão um pouco em pânico. A Eva demora-se. Trinta minutos depois o capitão fala a dizer que um dos membros da equipa faleceu de paragem cardíaca. A Eva regressa. Nem no avião nem no aeroporto havia qualquer material médico e após 30 minutos de massagem cardíaca e duas injeções de adrenalina não havia nada a fazer. Íamos agora esperar um médico local e a polícia para o constato e depois decidir se o avião partirá. Há hospedeiras que choram. Os passageiros dormem ou vão olhar o que se passa com o corpo ou trocam de lugares.
Eram 3 da manhã quando a decisão de partir é tomada, anunciando que o serviço iria ser impessoal infelizmente.